quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Uma sociedade “Fora do Eixo”: cultura livre ligada em rede


Jovens em busca de novos paradigmas relacionados à cultura, ensino, comunicação, e até mesmo de estilo de vida, estão aos poucos, com a ajuda principalmente da internet, organizando-se em grupos e redes com força e poder de mudança.

Essa juventude fervorosa, junto com tecnologias de comunicação de amplo alcance, está formando redes de conhecimento e trabalho, onde a troca e o compartilhamento são parte do processo de crescimento e desenvolvimento. Um embrião de uma nova forma de organização social, pautada em uma economia solidária em contraposição às leis econômicas vigentes. 
  
Um desses exemplos é a rede Fora do Eixo, concebida no final de 2005 por produtores culturais de Uberlândia (MG), Cuiabá (MT) e Rio Branco (AC), com o objetivo movimentar o cenário musical de suas cidades, bem distantes do movimentado eixo Rio – São Paulo, o que levou ao nome “Fora do Eixo” (FDE).

Os produtores criaram um circuito cultural por onde bandas e artistas independentes podiam circular pelas cidades participantes do FDE para apresentar sua produção, em troca, basicamente, de experiência e reconhecimento. A circulação dos artistas, caracterizada por escasso recurso financeiro, foi possível graças a hospedagem e refeição oferecidas pelos produtores culturais, o que tornou a rede um mercado de trocas, uma economia solidária.  

O “Fora do Eixo” cresceu e ampliou suas ações para além do mundo artístico-cultural. Criou-se um movimento com posições políticas, produção e difusão de tecnologias livres de comunicação, ensino e cultura. Agrega hoje mais de dois mil agentes em 27 estados brasileiros e dez países da America Latina, espalhados em mais de cem coletivos (Figura 1).

Figura 1. Pontos Fora do Eixo
 Atualmente a rede se constitui em várias frentes de trabalho, principalmente ligadas ao mundo artístico-cultural, como música, poesia, teatro, cinema, grafite e outros. Essas atividades possuem ligação direta com questões sócio-ambientais, o que demandou a criação de novas frentes de trabalho para abordar o assunto, como o “Pcult” (partido da cultura), “Universidade FDE” e “Nós Ambiente”, ligados respectivamente a política, ensino e ambiente. Toda essa configuração levou a um “estilo de vida FDE”, onde integrantes da rede passaram a morar junto e conviver diariamente nas chamadas Casas Fora do Eixo.

As Casas Fora do Eixo (FDE) são espaços físicos onde pessoas ligadas à rede convivem diariamente, e estão localizadas por todo o Brasil. Dentro das casas são praticados princípios de economia solidária, elaborados projetos e ações para as diferentes frentes de trabalho da rede, com grande enfoque no mundo artístico-cultural, e possibilita a estadia de artistas e produtores em circulação. São encontradas “Casas Fora do Eixo” ainda em Porto Alegre (RS), São Carlos (SP), Cuiabá (MT), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Manaus (AM), Amapá (AP), Porto Velho (RO), Uberlândia (MG), Goiânia (GO) e Sorocaba (SP). Em São Paulo (SP) temos uma Casa FDE, em funcionamento há dois anos, localizada no bairro da liberdade. 
     
Em Piracicaba, o Coletivo Piracema, com sede localizada na Rua do Trabalho, Vila Independência, desenvolve os princípios da rede, sempre atento às adaptações para a realidade local. Realizou eventos integrados com outros coletivos da rede como o Grito Rock e a semana do audiovisual.


Por Felipe Nery Arantes Mello e Laura Alves Martirani, ESALQ/USP.

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