quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Resenha do artigo científico “Presença de trialomentanos na água e efeitos adversos na gravidez”

Desenho de Ana Carolina C. M. Mendes

       A resenha apresenta o artigo "Presença de trialometanos na água e efeitos adversos na gravidez", de autoria da doutoranda Sônia Maria dos Santos e do professor Dr. Nelson Gouveia, ambos da Faculdade de Medicina da USP. O estudo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia, em 2011, constata uma possível associação entre a malformação e prematuridade de bebês relacionada aos trialometanos - compostos químicos que são subprodutos da associação entre o cloro, utilizado para desinfecção da água no seu tratamento, e a matéria orgânica, geralmente presente nas águas superficiais captadas. Eles podem ser encontrados nas estações de tratamento de água e chegam às mulheres grávidas pelo consumo da água de torneira.
         A pesquisa realizada no período de 1998 a 2002 abordou a população de bebês em fase de gestação de mulheres grávidas  de 19 municípios da região metropolitana de São Paulo abastecidos por uma mesma estação de tratamento de água. Os dados foram obtidos de registros do Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SINASC), do Sistema Estadual de Análise de Dados (SEDAE), da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo.
      Nessa pesquisa, os autores partem do pressuposto que os trialometanos podem afetar o desenvolvimento do feto principalmente nos seus três primeiros meses, etapa de desenvolvimento em que está mais vulnerável a indução de agentes químicos. Eles citaram vários estudos internacionais, os quais demonstram uma associação entre a presença de trialometanos na água de abastecimento em concentrações entre 80 e 100 microgramas por litro e efeitos na saúde da população. Em Ontário, no Canadá, por exemplo, chegaram a conclusão que as mulheres expostas às concentrações de 80 microgramas por litro ou mais, apresentam um risco duas vezes maior de natimortos que as mulheres não expostas.
          Nas análises, os autores observam um aumento nas concentrações de trialometanos detectados em função do tempo de armazenamento da água tratada. Quanto maior o tempo de contato entre o cloro e a matéria orgânica, maior foi a produção do composto. Também observou uma sazonalidade nos níveis presentes na água, sendo os registros mais elevados durante os períodos de maiores precipitações, o que potencializa o arraste de substâncias húmicas e fúlvicas - partes solúveis do húmus - para os rios e, consequentemente, para os reservatórios de água.
          Na conclusão, os autores enfatizam a importância da cloração da água e o grande benefício à saúde humana. O cloro, em qualquer de seus compostos, é capaz de destruir e tornar inativos os organismos causadores de enfermidades e é vantajoso por sua aplicação ser simples, de baixo custo e fácil análise. Entretanto, eles ressalvam, com base nos resultados obtidos, a necessidade de uma melhor monitoração dos níveis de trialometanos presentes na água de abastecimento público. Recomendam também estudos subsequentes de forma a contribuir para uma reconsideração do nível máximo permitido no Brasil, considerado alto quando comparado aos outros países.

Fonte: SANTOS, S. M. dos; GOUVEIA, N.. Presença de trialometanos na água e efeitos adversos na gravidez. Revista brasileira epidemiologia. [online]. 2011, vol. 14, n.1, pp. 106-119. ISSN 1415-790X. Acesso 31/08/2011.

por: Ana Carolina C. M. Mendes, estudante de Engenharia Agronômica e Licenciatura em Ciências Agrárias, sob orientação da profa. Dra. Laura Alves Martirani.