segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Meio Ambiente e saúde: estudos sobre a produção de hormônios no organismo humano

Na década de 90 um filme documentário intitulado ”Agressão ao Homem: o futuro roubado” (LYNCH, 1993) produzido pela televisão inglesa BBC, em 1993, apresentou uma série de pesquisas realizadas, em diversos países do mundo, relacionando a ingestão de substâncias que mimetizam estrogênios (um tipo de hormônio) a diversas doenças, como o câncer de mama, diminuição da fertilidade e problemas no sistema reprodutivo de diversos animais, inclusive de mamíferos.





  Os estrogênios são hormônios responsáveis pelo aparecimento das características sexuais secundárias femininas. Estão presentes em homens e mulheres, sendo que, quando em grande quantidade, podem causar efeitos adversos. Diversos produtos químicos produzidos sinteticamente pelo homem, quando ingeridos podem atuar como estrogênios femininos no organismo e causar danos à saúde. Exemplos são: DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), DDE (2,2-bis-p-clorofenil-1,1-dicloroetileno), Kelthane, Heptachlor, Fenol, BHA (butil-hidroxi-anisol), e PCBS (Bifenil policlorado), incluindo os agrotóxicos e os poluentes (BILA & DEZOTTI, 2007; CADBURY, 1993).

  No documentário, os pesquisadores relatam experimentos que demonstram o efeito dessas substâncias em animais, como camundongos, jacarés e peixes. O Dr. Richard Sharpe da Unidade de Biologia Reprodutiva de Edimburgo (Escócia) e o Prof. Niels Skakkebaek do Departamento de Crescimento e Reprodução do Hospital Universitário de Copenhagem (Dinamarca) descobriram que existia uma relação entre diversas doenças que estavam se tornando comum em meninos, como a não descida do testículo, a feminilização do trato reprodutivo e a má formação da uretra, com a exposição excessiva a hormônios femininos. Na mesma época, a Dra. Ana Soto do Departamento de Biologia Celular da “Tufts University School of Medicine” de Massachusetts (EUA) constatou que o nonifenol, um produto amplamente utilizado nos anos 40, também mimetizava o estrogênio e causava a proliferação de células de câncer de mama.

  Segundo artigo publicado no site Terra (VLAHOU, 2008), um estudo recente, realizado em 2008 por Fabrizio Menchini Fabris da Universidade de Pisa (Itália) observou queda do número de espermatozóides em homens expostos a poluição. Segundo ele, homens que vivem em grandes centros urbanos ou áreas poluídas possuem um número menor de espermatozóides do que aqueles que vivem em áreas menos poluídas. Um outro estudo semelhante já havia sido realizado e mostrado no documentário pelo Prof. Niels Skakkebaek, que ao estudar amostras de sêmen de homens jovens, percebeu que mais de 50% de seus espermatozóides apresentavam alguma anormalidade. Observou também que o número e mobilidade dos espermatozóides do grupo apresentava considerável redução em relação a homens estudados 20 anos antes.


  A exposição a estas substâncias está por toda parte. Um exemplo disso é o Bisfenol A, uma substância que está presente no revestimento interno da maioria dos enlatados e diversos plásticos, incluindo os de algumas mamadeiras. Com essa substância foi feito um experimento expondo ratas grávidas a doses mínimas, conjuntamente com ftalatos (também presente em diversos produtos, como roupas, cosméticos, detergentes e brinquedos), causando o nascimento de machos com testículos até 15% menores e com 20% a menos de sêmen. Ambas as substâncias ainda são utilizados no Brasil, sem proibição, pois a FDA (Food and Drug Administration), agência que regula produtos alimentícios e farmacêuticos, alega que ela não está presente em quantidades alarmantes e é rapidamente metabolizada, não apresentando riscos a saúde. Porém, em alguns lugares, como no Canadá e no Estado da Califórnia (EUA), este produto já é proibido (FORESTI, 2009).

  Como se pode observar a exposição a essas substâncias é praticamente inevitável. Ela pode ocorrer através do contato direto no local de trabalho ou em casa, ou indireto, através da ingestão de água ou alimentos contaminados. A contaminação indireta por alimentos pode ocorrer através da ingestão da carne de animais que ingeriram esses hormônios ou da ingestão de vegetais nos quais tenham sido aplicados pesticidas. Elas também podem ser encontradas em diversos tipos de plásticos, lodo biológico de estações de tratamento de efluentes e em chorumes de aterros sanitários.
Existe a necessidade de se desenvolver novas pesquisas sobre o assunto, propor tecnologias alternativas, elaborar recomendações para fabricação de produtos e viabilizar o tratamento de água para retirada desses tipos de substâncias da água que consumimos, processo esse de altíssimo custo.


BIBLIOGRAFIA:
 BILA, D.M. & DEZOTTI, M. Desreguladores endócrinos no meio ambiente: efeitos e conseqüências. Quím. Nova, Vol.30, No. 3, 651-666, 2007.


CADBURY, D. Assault On Male. Inglaterra: BBC Horizon, 1993 (50 min.). Acesso 14 dez. 2009.


FORESTI, T. Mamadeira de plástico faz mal? Revista Crescer. Acesso em 05 de novembro 2009.


GEROLIN, E.R.R., ISAAC, R.L. & EBERLIM, M. Ocorrência de agentes químicos estrogênicos naturais: estriol e 17β-estradiol, sintético 17α etinilestradiol e xenooestrogênico nonifenol nos mananciais e águas de abastecimento da bacia do Rio Atibaia, Campinas e Sumaré-SP.

NUNES, M.V. & TAJARA, E.H. Efeitos tardios dos praguicidas organoclorados no homem. Rev. Saúde Pública, 32(4): 372-382. 1998. Acesso em: 29 outubro 2009.


RAIMUNDO, C.C.M. Ocorrência de interferentes endócrinos e produtos farmacêuticos nas águas superficiais da bacia do rio Atibaia. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Química. 2007.

VLAHOU, A. Estudo: poluição reduz número de espermatozóides. Terra Notícias, mar. 2008. Disponível em: . Acesso em: 29 out. 2009.




Por Myldred Ometto Spinelli, graduanda do Curso de Ciências Biológicas da ESALQ/USP, sob orientação da Profa. Laura Alves Martirani durante a realização de Estágio Supervisionado do Programa de Licenciatura da ESALQ/USP.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Oficinas continuam, agora em Rio Claro!

   Na tarde da última segunda-feira, 7 de dezembro, os alunos da 6a série da Escola Estadual “João Baptista Negrão Filho”, no município de Rio Claro-SP, participaram da Oficina de Educomunicação Socioambiental que é desenvolvido nas cidades por onde passa o Rio Corumbataí. As atividades são parte do Projeto “Novas Tecnologias da Comunicação e Educação Ambiental na bacia Hidrográfica do rio Corumbataí, junto ao qual a mestranda Vivian Battaini desenvolve sua dissertação de mestrado e que visa possibilitar a estes estudantes um olhar diferenciado para o Rio Corumbataí, aprender mais sobre ele para disseminar entre vizinhos, familiares e amigos, a necessidade de conservá-lo e a importância dele para toda a população.


   Após cinco semanas de atividades os alunos puderam aprender sobre os ecossistemas locais, em especial o Rio Corumbataí, e a necessidade de preservá-lo; analisaram os meios de comunicação para compreender como o ambiente é trabalhado pelos diferentes meios impressos e a necessidade de criar espaços de comunicação para o exercício da cidadania; realizaram saída de campo, na qual aprenderam mais participativamente sobre a fauna, flora, a qualidade da água da região e aplicaram questionários junto aos moradores ribeirinhos sobre a percepção deles sobre o Corumbataí. Além disso, discutiram como seria o município de seus sonhos e como cada um pode contribuir para que isso se torne real.
Para a pesquisadora e responsável pelas oficinas, Vivian Battaini, “essa dinâmica em trabalhar o ambiente, não apenas atentando aos problemas do Rio, mas interligando-os a realidade social, a contribuição da população, e até mesmo midiática, possibilita um olhar mais crítico dos alunos sobre a sociedade”.


   Uma parceria foi feita com o Diário de Rio Claro, a escola e a pesquisadora, que possibilitou que os trabalhos realizados na escola ocupassem manchete na capa do jornal e quase uma página inteira de matéria sobre a saída de campo e a proposta do trabalho. “Essas parcerias só vem a somar em nosso trabalho, pois a alegria dos alunos em ver suas fotos na capa do jornal dispensa qualquer comentário e nos dá a certeza de que mais trabalhos como esses devem ser realizados e pensados nas escolas, de forma que o aluno acredite naquilo que ele faz, mas o principal envolva-se com a escola e não apenas vá para a escola”, concluiu Vivian.


   Na oficina os alunos aprenderam, com a ajuda do Jornalista do Diário de Rio Claro, Adriel Arvolea, como produzir um texto e com todo material das oficinas anteriores – fotos, desenhos, textos, poesia e músicas – elaboraram um fanzine. No material eles traduzem suas experiências e conhecimentos adquiridos na oficina, que ficará para sempre guardado na mente deles e nas folhas que compõem o fanzine.



Por Marcio Oliveira, jornalista e mestrando do Programa de Ecologia Aplicada (Cena e Esalq/USP)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Educação Ambiental e os Coletivos Educadores

Coletivos Educadores são grupos formados por diferentes instituições (universidades, secretarias de educação e de meio ambiente, órgãos públicos, ONGs, pastorais, Redes de Educação Ambiental, Movimentos Sociais) que atuam no campo da educação ambiental, educação popular, ambientalismo e mobilização social, em processos formativos permanentes, participativos e continuados.
A formação de Coletivos Educadores foi proposta pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) a partir do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e do Programa Nacional de Formação de Educadoras e Educadores Ambientais (ProFEA). A proposta se consolidou em 2006 através da primeira chamada pública para o Mapeamento de Potenciais Coletivos Educadores para Territórios Sustentáveis. Hoje existem cerca de 150 coletivos no território nacional.

O papel de um Coletivo Educador é promover a articulação institucional para consolidação de políticas públicas em educação ambiental e a reflexão crítica acerca da problemática socioambiental. O objetivo é criar condições para o desenvolvimento continuado de ações e processos de formação em Educação Ambiental visando a construção de territórios sustentáveis.
Os Coletivos Educadores promovem processos de formação por meio da arquitetura da capilaridade que busca formar um cidadão multiplicador de processos educativos (BRASIL, 2006). Isso significa fomentar a construção de um processo dialógico em que todas as pessoas do município venham a atuar como educadores ambientais, de modo a colaborar para um debate que influencie nas políticas públicas.



O Coletivo Educador Pirá Sykauá (que em tupi guarani significa “lugar onde o peixe pára”, Piracicaba) é formado por representantes de grupos de estágio e de laboratórios da ESALQ (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), integrantes da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, ONGs, entre outros. O coletivo de Piracicaba se iniciou em 2006, na época de realização do evento Semana do Pisca, evento que consiste numa série de atividades de Educação Ambiental voltadas para a conservação da sub-bacia do Piracicamirim. Com o desenvolvimento das atividades, o grupo ampliou sua atuação para o município de Piracicaba e região.
Atualmente, o coletivo Pirá Sykauá desenvolve atividades em todo o município de Piracicaba e região. Qualquer pessoas interessada está convidada a participar das reuniões, que ocorrem às segundas feiras, às 14:00 hs, a cada quinze dias. As reuniões ocorrem nos diversos espaços das instituições. Quem tiver interesse em participar deve enviar contatar o coletivo educadores (019-3429-4436, r. 235 ou coletivopira@gamail.com). A educação ambiental, quando participativa, portanto, comprometida com a transformação social, pode contribuir para a ampliação e consolidação de uma cultura mais democrática e, portanto emancipatória da sociedade. Para Paulo Freire, é através da perspectiva emancipadora da educação que o ser humano chega a ser sujeito, podendo assim, construir-se e construir a sua própria história.

Referências

BRASIL. Programa Nacional de Formação de Educadoras e Educadores Ambientais (PROFEA), Brasília: Ministério do Meio Ambiente (MMA), 2006.

Por Lorena Gebara, graduanda do oitavo semestre do curso de Ciências Biológicas, ESALQ/USP, estagiária do Projeto Educorumbatai, sob orientação de Profa. Laura Alves Martirani, coordenadora do Projeto